sonolências

Hoje deixo-vos um pensamento ainda meio sonolento mas que me fez sentido (se calhar porque estou cheio de sono). Às vezes penso que se todos nós tivéssemos nascido num meio socioeconomicamente desfavorecido e que se alguns não tivessem acesso a aulas de piano, violino, pintura e afins, que outros não tivessem dinheiro para comprar instrumentos, que em casa não houvesse enciclopédias, nem internet, nem livros de poesia e romances, que se ainda alguns, outros, não tivessem dinheiro para pagar aulas de ballet, karaté e afins, quantos mais se procurariam expressar através do Hip Hop? Quantos mais procurariam fazer dum giradiscos um instrumento musical, dum microfone um veículo proverbial, duma lata de spray arte urbana e do bboying uma coreografia inovadora? Não será este dos poucos veículos populares e democratizados de acesso e produção de cultura?

Aproveito para vos deixar algumas fotos do Wall of Fame do Seixal. Regularmente irei actualizar com mais fotos.

Fiquem bem!

4 comentários:

Unknown disse...

Acorda que está na hora!
É um belo pensamento, lindo mesmo, velhos tempos esses, quando o acesso à democracia era apenas uma ténue aspiração e a veia popular se espraia quase naturalmente; hoje, feliz ou infelizmente, não é tão lírico este nosso mundo; com a democratização, até do Hip Hop, veio também a sua capitalização (leia-se associado também aos ismos que lhe são inerentes); e todos disparam...já é uma questão de naturalidade...até pureza...frutos da democratização.

Anónimo disse...

É preciso despertarmos dos estados sonolentos que nos entorpecem os sentidos e olharmos de frente os nossos demónios colectivos... é irónico que a democratização, com o seu pricípio de igualdade latente, nos dê muitos exemplos de segregação nestes tempos em que a palavra cidadania é apenas uma verborreia sem significado. Precisamos de (re)encontrar veículos identitários, como o hip hop nos dá o exemplo...
Bem haja P.dru! Continua a acordar!

P.Dru disse...

Obrigado RD pelo teu comentário, eu avisei que estava com algum sono :) De facto, como referes e bem, o Hip Hop é hoje também mainstream, basta aliás ligar um dos melhores radares da cultura juvenil globalizada - a MTV -para percebê-lo. Este é um movimento de "verticalidade" nas palavras de Milton Santos. Uma expressão hegemónica da globalização cultural. No entanto o Hip Hop é também feito de "horizontalidades", de identidades locais, de resistências a esse movimento. A este respeito é muito interessante a resposta publicada no último número da Hip hop Nation de alguns rappers portugueses à vinda recente do rapper 50 cent a Portugal. Para eles o rap não é isso e essa atitude crítica é a minha (nossa?) esperança de que o Hip Hop não se torne mais um fenómeno tipo "grunge". Alguém ainda se lembra dessa next big thing?

P.Dru disse...

Olá Scarlett! Obrigado pelos teus comentários. Não posso deixar de concordar com a tua opinião, afinal de contas todos nós necessitamos de um pouquinho de reconhecimento e de sentimentos de pertença numa sociedade em que "somos o que temos", não é? Uns pelos meios formais, outros pelos meios que têm mais à mão... e aos quais acedem. Afinal de contas a cultura, e eventualmente a democracia, não é de todos e muito menos para todos.