A urbanista Jane Jacobs dizia, na última entrevista que deu poucos dias antes de falecer em 2006[1], que aquilo que deixamos aos nossos descendentes são sobretudo as cidades e as canções. Jacobs era antes de mais uma profunda defensora do espaço público. Activista, bateu-se violentamente contra os interesses da especulação urbanística e imobiliária que durante décadas do séc. XX foi personificada na figura de Robert Moses e William Levitt, os grandes impulsionadores da suburbanização e do white-flight, com a saída da população WASP para os white levvittown suburbs, e o esvaziamento do centro das grandes cidades abandonadas aos pobres, sobretudo afro-americanos e hispânicos.
Para Jacobs, a cidade não deve ser um modelo abstracto, gerado por lógicas economicistas e em que o espaço se sobreponha aos cidadãos. A cidade deve ser – sobretudo - um organismo vivo, em que a base comunitária - à escala humana - possibilita relações de vizinhança, de co-responsabilização e de partilha, fortemente alicerçadas no capital relacional dos indivíduos. Para Jacobs era na diversidade cultural, no mix-social e no conhecimento do outro e da diferença, na proximidade, que a igualdade e a justiça social podem melhor resultar. Para ela, o envolvimento das pessoas nos lugares é um processo democrático decisivo e o espaço público é o palco privilegiado para trabalhar o conhecimento mútuo, contrariando a anomia social gerada pelo suburbanismo. Para Jacobs os bairros não devem ser construídos de forma isolada. Uma rua com gente é mais segura que uma rua vazia. O carro não deve ter primazia sobre o peão na definição do espaço urbano.
Jacobs foi talvez a maior fonte de inspiração para toda uma geração de urbanistas, sociólogos e geógrafos que se inspiraram nas suas obras. Infelizmente, o modelo que prevaleceu não foi o seu.
Baseado na lógica de que diferentes extractos socio-económicos não querem viver em conjunto, foi estabelecido o modelo do espaço defensivo de Oscar Newman (1972). Este modelo deu o seguimento lógico ao modelo de Moses iniciado nos anos 30 do século passado nos EUA, e posteriormente adoptado em grande parte das cidades ocidentais. A lógica do modelo do espaço defensivo baseava-se sobretudo na delimitação dos territórios, apropriados exclusivamente por grupos homogéneos de população que garantiriam a sua própria segurança e um mais fácil controlo social. O espaço público deveria ser sobretudo amplo, despovoado e de fácil controlo securitário.
Para Jacobs, a cidade não deve ser um modelo abstracto, gerado por lógicas economicistas e em que o espaço se sobreponha aos cidadãos. A cidade deve ser – sobretudo - um organismo vivo, em que a base comunitária - à escala humana - possibilita relações de vizinhança, de co-responsabilização e de partilha, fortemente alicerçadas no capital relacional dos indivíduos. Para Jacobs era na diversidade cultural, no mix-social e no conhecimento do outro e da diferença, na proximidade, que a igualdade e a justiça social podem melhor resultar. Para ela, o envolvimento das pessoas nos lugares é um processo democrático decisivo e o espaço público é o palco privilegiado para trabalhar o conhecimento mútuo, contrariando a anomia social gerada pelo suburbanismo. Para Jacobs os bairros não devem ser construídos de forma isolada. Uma rua com gente é mais segura que uma rua vazia. O carro não deve ter primazia sobre o peão na definição do espaço urbano.
Jacobs foi talvez a maior fonte de inspiração para toda uma geração de urbanistas, sociólogos e geógrafos que se inspiraram nas suas obras. Infelizmente, o modelo que prevaleceu não foi o seu.
Baseado na lógica de que diferentes extractos socio-económicos não querem viver em conjunto, foi estabelecido o modelo do espaço defensivo de Oscar Newman (1972). Este modelo deu o seguimento lógico ao modelo de Moses iniciado nos anos 30 do século passado nos EUA, e posteriormente adoptado em grande parte das cidades ocidentais. A lógica do modelo do espaço defensivo baseava-se sobretudo na delimitação dos territórios, apropriados exclusivamente por grupos homogéneos de população que garantiriam a sua própria segurança e um mais fácil controlo social. O espaço público deveria ser sobretudo amplo, despovoado e de fácil controlo securitário.
Este modelo teve um impacto enorme na modelação do espaço urbano. Subitamente, condomínios privados começaram a emergir, criando a ilusão de mais segurança e sobretudo de uma certa homogeneidade cultural, étnica e económica que garantia às classes hegemónicas o seu pequeno paraíso terrestre. Se associarmos este processo à crescente privatização dos espaços educativos, de consumo e de lazer, teremos aqui seguramente um grave problema de igualdade e cidadania para os próximos tempos.
No entanto, esta lógica de segregação e estratificação não fez sentir a sua influência apenas na esfera dos grupos socio-económicos mais poderosos. A um outro nível, a lógica do espaço defensivo foi posta em prática, nomeadamente na maioria dos processos de realojamento de populações insolventes, quer por questões economicistas e de uso do solo, quer, sobretudo, por questões de controlo social. Aos condomínios para classes favorecidas, somaram-se, assim, nos últimos 20 anos, os “condomínios privados para os menos favorecidos.
Se do ponto de vista do controlo securitário, e até mesmo da intervenção das organizações de cariz social, esta concentração é uma vantagem, podendo até do ponto de vista cultural gerar uma concentração e uma riqueza que se podem tornar um potencial de intervenção e valorização territorial, duas desvantagens podem ganhar um peso significativo enquanto factor de risco social:
1. a erosão de espaços públicos que possibilitem o seu encontro, poderá, a meu ver, tornar-se um dos maiores problemas que iremos enfrentar nas próximas décadas;
2. o crescente desconhecimento do “outro”, em consequência da ausência de sociabilidades positivas.
Os incidentes das banlieus francesas não são novos. Se recuarmos ao South Bronx em 1977 (“Summer of Sam”), encontraremos fenómenos semelhantes. Se recuarmos a Oldham e a Bradford, em 2001, a situação demonstra traços comuns: sociedades que estão a crescer de costas voltadas e em que uns e outros não se configuram como um nós. Que espaços públicos partilhamos hoje com os “outros”? Estaremos nós disponíveis para tecer a cidade cerzi-la de forma contínua e não apenas contígua?
Daquilo que tem sido o meu trabalho de há 10 anos para cá nas áreas mais críticas das cidades portuguesas, há duas inquietações que gostaria de partilhar convosco. A primeira é a procura de uma explicação para o facto dos jovens de Chelas, quando vão ao centro da cidade, dizerem “Eu vou a Lisboa”. A segunda é a imagem que captei há uns tempos num bairro da Amadora e que diz “Kova M vs. Mundo”.
Precisamos, urgentemente, de mais bairro no Mundo e de mais Mundo no bairro!
[1] Curiosamente, no dia 25 de Abril.
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