
"50 Cent ao vivo foi o primeiro concerto da vida de Tiago Mendonça, 12 anos. Lá em casa, a mãe de 41 anos ouve Supertramp, Rod Stewart, Eric Clapton e, já chega, porque este rapaz se "envergonha" com o gosto musical materno e pede para ficar por aqui. "Não gosto nada dessa música. Não tem ritmo", confessa. Ritmo têm 50 Cent, Boss AC, Snoop Dogg, Eminem, os rappers que ele ouve. Ele e vários rapazes e raparigas da sua geração. Pela quantidade de adolescentes e pré-adolescentes que estavam nas longas filas para entrar no Pavilhão Atlântico, em Outubro, ninguém diria que se tratava de um concerto do rapper americano. 50 Cent é um rap duro (é o chamado "gangsta rap"), tem uma história violenta ligada ao tráfico de droga e à luta de "gangs" e foi a primeira grande estrela mundial do hip-hop a vir a Portugal. É um campeão de vendas em todo o mundo, mas não em Portugal (o seu último álbum, "The Massacre", não chegou às 20 mil cópias), apesar de ter levado ao Atlântico 15 mil pessoas. O concerto foi um marco, dizem os entendidos. Espelhou a força deste género e demonstrou que a indústria musical tem um filão por explorar. E na primeira parte Boss AC, que pôs o Atlântico de braços no ar e a repetir com ele as letras das suas músicas, provou ainda que as grandes estrelas do hip-hop português podem ter tanto ou mais impacto que as estrelas globais. Mais inesperado do que isto foi a "invasão" do concerto por miúdos. A pergunta impõe-se: o que é que 50 Cent tem que arrasta tantos adolescentes e pré-adolescentes? Será apenas porque é uma estrela global como Madonna e os U2? Liga-se a MTV e em qualquer "videoclip" há rappers, sintoniza-se a estação de rádio mais ouvida pelos adolescentes urbanos, a Cidade FM, e quase tudo soa a hip-hop, olha-se para as roupas dos "teens" e andam todos de calças largas, "sweatshirts", ténis grandes. É que a banda sonora deles já não é o rock. É o hip-hop que saiu do gueto e se globalizou, deixou de ser a bandeira da negritude para passar a ser a bandeira da juventude. O hip-hop é apenas moda ou o rebelde sem causa desta geração deixou de ser o "junkie" Kurt Cobain para passar a ser o "gangster" 50 Cent e o lema juvenil ja nao e "sexo, droga e rock'n'roll", mas "sexo, balas e hip-hop"?" - ver o artigo completo em: http://www.acime.gov.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=1069
"O Hip-Hop é Pop", Publicado no Público em 21-11-2005 (Joana Gorjão Henriques)
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